Até quando o corpo pede um pouco mais de alma
A vida não para.
(Lenine)
Como falar sobre o corpo sem o limitar, aprisionar, classificar ou explicar? A natureza do corpo transcende as palavras. O corpo é uma página em branco onde escrevemos, desenhamos e imprimimos nossas marcas, qual numa tatuagem. Agora mesmo, ao escrever este texto, meu corpo oscila entre a paralisação e um emaranhado caótico de emoções. Observo-o e escolho conscientemente entregar-me à experiência. Para escrever, é preciso habitar o corpo.
Nessa presença sensível em meu corpo, proponho que este texto vá além dos conceitos e convide à uma reflexão essencial: como nós percebemos o corpo antes de qualquer movimento?
Essa forma onde a vida se manifesta, organiza-se em uma estrutura dinâmica e complexa que ultrapassa a fisiologia propriamente dita. É ele quem dá voz às emoções, pensamentos, sensações, sentidos e percepções que possibilitam as nossas experiências. É a sua estrutura que ordena os eventos da existência e coloca em movimento a nossa essência no mundo.
Como todos sabem, o corpo se expressa sem palavras, porém cabe aqui uma pergunta: estamos escutando o que esse corpo está nos contando?
O corpo carrega em si toda a nossa história e trajetória pessoal. Se pudéssemos fotografar nossa vida e projetá-la quadro por quadro, perceberíamos que somos sequências móveis de formas emocionais variadas. Vivenciamos ao longo da existência uma jornada composta de fases intensas: concepção, desenvolvimento embriológico, infância, adolescência e vida adulta. Cada fase vai imprimindo no corpo memórias emocionais que podem bloquear novos movimentos. A cada bloqueio de movimento, novas tensões são geradas, podendo prejudicar a conexão do indivíduo consigo mesmo e com o mundo.
O ponto de partida é compreender que a existência é constituída de eventos vivos e inter-relacionados. A partir de cada movimento, e de uma atenção consciente à experiência, podemos dissolver atitudes mecanizadas que aprisionam a nossa vida em restritos modos de operação. Com isso, podemos evitar a repetição de pensamentos, sentimentos, gestos e maneiras de agir.
O melhor exercício diário de cuidado com o corpo seria, talvez, dedicar-se ao contato com ele de forma amorosa, dando um pequeno e consciente passo a mais para abrir espaço à experiência. Experienciar é permitir que algo nos aconteça e nos afete. Podemos, a cada novo movimento, imprimir em nosso corpo aprendente novas maneiras de ser e de agir.
Viver uma vida com sabedoria é reconhecer o que o nosso corpo possui todos os instrumentos que possibilitam o equilíbrio – físico, mental, emocional e espiritual – para potencializar nossa capacidade generativa de saúde e bem-estar.
Quanto mais escutamos e cuidamos das sutilezas de nosso corpo, mais prontos estaremos para cuidar do outro e do planeta.
Nelma da Silva Sá é Facilitadora, Educadora, Pedagoga e Administradora de empresas. Coach de Processo de Transição Profissional. Especialista em Dinâmica Organizacional, Gestão e Ambiente de Trabalho. Pós-graduada em Transdisciplinaridade e Desenvolvimento Integral do Ser Humano pela Universidade Internacional da Paz. Experiência em Organizações Privadas com foco em implantação de Projetos e Desenvolvimento de Equipes e Lideranças. Cofundadora, Presidente e Coordenadora Pedagógica da Unipaz São Paulo. Facilitadora dos Programas: Eneagrama, Autogestão, Educação Ambiental e A Arte de Viver a Vida de Pierre Weil.