Transitamos do oriente ao ocidente aprendendo desde muito cedo a generalizar a humanidade pela narrativa do homem e ao falarmos da integração do corpo, da mente e do espírito, não nos perguntamos: qual é esse corpo? Nossa pluralidade humana não passa despercebida da nossa ferramenta no mundo e existem muitos recortes a serem considerados nos estudos simbólicos do ser, todos complexos e relevantes e sonho com a possibilidade de que um dia se sintam todos contemplados. Mas eu, por ser especialista em mim, dedico-me a pesquisar e fomentar que mais mulheres se revelem para si mesmas e contem suas próprias histórias.
Grandes mestres se dedicaram a explorar os mistérios da mente humana a partir de um viés central masculino e por isso convido: como seria refletir sobre a inteireza do SER, considerando o protagonismo feminino? Percebo a Consciência Menstrual, isto é, o ciclo menstrual como um todo e não somente o período de sangramento que estamos habituadas a considerar, como um convite para a inteireza do SER-mulher que atravessa essa experiência. Pois, ao conhecer e reconhecer as diferentes fases desse ciclo e os seus efeitos sobre o corpo e a sua produtividade é possível desenvolver autonomia e intimidade com uma realidade pouco falada, por vezes desconhecida ou rejeitada como algo impuro e vergonhoso. Compartilhamos no coletivo um processo de psicoeducação (instrução do sujeito de cuidado sobre sua condição), onde muitas mulheres despertam para consideração do ciclo menstrual como a manifestação de um aspecto saudável da sua natureza e o respeito da individualidade na vivência dessa jornada para dentro de si mesma. Popularizam-se agendas, mandalas e calendários lunares para o processo de autodescoberta e acredito que todos os seres serão beneficiados pelo desenvolvimento dessa Consciência, afinal muitas mulheres se queixam de sintomas, desconfortos emocionais e físicos, problemas e patologias relacionadas ao ciclo, mas não possuem espaço de acolhimento adequado ou compreensão no seu local de trabalho.
Aprenderemos a fluir com a vida quando soubermos navegar em nós. Mulheres são cíclicas e vivem fases diferentes ao longo da vida que possuem relação direta com as mudanças que ocorrem através desse processo (menarca, gestação, perdas gestacionais, menopausa…). Estar familiarizada com a realidade da sua natureza combate a alienação e a dualidade entre o corpo e o espírito, sagrado e profano, e nos convoca a ouvir nossa voz interior.
Eu, mulher integral.
Antes fragmentada em partes de mim, precisava do espelho do Outro para existir.
Me reconheci conhecendo minhas dores e minha vergonha.
Minha linhagem reprimida, minha linguagem oprimida.
Expandi, explodindo em sangue
Marcada pelo mistério
Vivo
Do vazio da descoberta de mim
Me fazendo SER
Inteira
Juntando Outras
Para sermos completas
– legião
Natália Monteiro
Natália Monteiro é psicóloga pela UNIFACS, pós-graduada em Saúde Mental e Atenção Psicossocial pela IESFAC. Cursa Especialização em Psicologia Transpessoal na UNIPAZ São Paulo.
Atende na clínica há 7 anos, passando por experiências em três cidades diferentes: Belém-PA, Salvador-BA e Atibaia-SP e essa dinâmica revela aos mais atentos um pouco sobre seu perfil e atuação profissional. Há 3 anos em São Paulo-SP, onde amplia seu trabalho como facilitadora de grupos focados em desenvolvimento pessoal, realiza oficinas de arte integrativa e atende individualmente como psicoterapeuta de adultos e grupos de mulheres.
Também é escritora de poesias, contos e histórias infantis.