A Complexidade sempre esteve entre nós e em nós, pois a vida é um fenômeno complexo, mas ultimamente temos falado muito sobre esse assunto. Por quê?
O conceito de complexidade é muito amplo. Pode ser apenas uma qualidade daquilo que é complexo, como também um método científico, uma ciência, uma cosmovisão ou um problema científico. Vamos falar então da complexidade apenas como uma qualidade daquilo que é complexo.
Logo, se faz necessário entender o que é um fenômeno complexo. Fenômenos compostos por diversos elementos heterogêneos que interagem dinamicamente oscilando entre ordem e desordem, mas, mantendo a estabilidade, são considerados complexos. O corpo humano, por exemplo, é um sistema complexo. Ele é composto por diversos elementos diferentes como células, tecidos, órgãos, ossos, hormônios etc. que interagem dinamicamente entre si direta ou indiretamente, oscilando entre ordem e desordem. Basta observar como a nossa pressão arterial e temperatura mudam durante o dia, os glóbulos brancos sobem e descem: tudo se desorganiza e volta a se organizar mantendo a
estabilidade. Mesmo com todas essas oscilações e mudanças que acontecem no nosso corpo, não deixamos de ser humanos. Conseguimos manter a estabilidade do sistema e a nossa unidade.
Além dos sistemas biológicos, cujos limites físicos são evidentes, pois você sabe onde acaba um cachorro e começa outro, há também sistemas complexos em que os limites são apenas uma abstração humana, como nos sistemas sociais. A família é um exemplo de um sistema complexo sem limites físicos e com limites conceituais que variam entre culturas e contextos. Algumas famílias humanas são compostas apenas por seres humanos, enquanto outras incluem seus pets. Há algumas ligadas por laços de sangue, outras por laços afetivos ou ainda, por contratos. Há as singelas compostas por três pessoas, outras por trezentas.
Essa tentativa de ilustrar o conceito de complexo usando como exemplo a família já demonstra o quão dinâmico, ambíguo, diverso e impreciso podem ser os sistemas complexos.
O imenso avanço tecnológico que a humanidade presenciou nos últimos anos e o consequente processo de globalização estão aumentando consideravelmente a complexidade social no planeta. Todos os nossos sistemas sociais estão mais complexos do que nunca: educação, economia, política, saúde, segurança etc. Pensem numa imensa rede com diversos pontos diferentes que se conectam. Conforme a tecnologia foi aumentando e conectando mais e mais pessoas, essa rede foi ficando cada vez maior não apenas em número de elementos, mas também em possibilidades de conexões. Ela não cresce apenas em sua extensão horizontal como um grande tecido, mas em três dimensões num grande emaranhado.
Deixe-me ilustrar o que estou dizendo por meio de um outro sistema social: a opinião pública. No passado, as pessoas de um pequeno vilarejo no interior do Brasil tinham um alcance muito restrito no que diz respeito à opinião pública. Elas podiam interagir apenas com quem estava dentro do seu alcance geográfico e limitada a sua capacidade de difundir informação, logo, sua atuação se restringia a sua localidade e às pessoas ao seu redor. Já existia complexidade, mas era menos complexa. Atualmente, o número de atores ou elementos que podem mobilizar a opinião pública aumentou exponencialmente e as possibilidades de conexão também aumentaram. Esses elementos podem interagir diretamente com milhões de pessoas em todo o mundo, ativar conexões com astros de Hollywood, com grandes organismos internacionais e com outros governos. Uma única pessoa pode iniciar um movimento e atrair bilhões de pessoas para sua causa e as consequências desse movimento são incontroláveis. Se a guerra de Canudos ocorresse hoje, com sua história sendo contada pelos seus moradores ao vivo pelo Instagram para todo o mundo, o desfecho poderia ser inimaginável. No passado, basicamente só os grandes grupos midiáticos ou grandes atores sociais, como os governos, podiam mobilizar a opinião pública, o que trazia uma certa estabilidade para o sistema, hoje qualquer cidadão no mundo com um celular na mão e acesso à internet pode causar um grande estrago… Essa é a essência da teoria do caos: sistemas complexos são extremamente sensíveis às condições iniciais. Para Edward Lorenz, precursor da teoria do caos, era como se “o bater das asas de uma borboleta no Brasil causasse, tempos depois, um tornado no Texas”.
Se todas os sistemas sociais estão mais complexos, com mais elementos e mais interações, então toda a nossa atuação social também ficou mais complexa. Trabalho, estudo, relacionamentos amorosos e familiares, política, finanças, enfim, todo nosso fazer social está diferente e isso já está trazendo consequências para o nosso cotidiano. Algumas características dos sistemas complexos como a fluidez, a dinâmica, a imprevisibilidade, a falta de controle e o não-equilíbrio já são evidenciados em nossa sociedade. Olhe a sua volta e observe suas relações pessoais e perceba se elas já não estão mais fluidas, dinâmicas e imprevisíveis comparadas ao que era na época dos seus avós.
Atuar na complexidade esperando por segurança, estabilidade, certeza e controle é um grande erro de método que estamos cometendo e sofrendo com isso. É imprescindível que aprendamos rápido a nos relacionar com esse mundo complexo que exige novas competências e uma nova forma de abordar as realidades, mas isso iremos tratar em uma outra ocasião.
Bento Áviles cultiva seu tempo como Pesquisador e Consultor em Psicologia Transpessoal, Pensamento Complexo e Diversidade & Inclusão. Facilita experiências de cocriação de negócios com o Projeto Empreendedores do Bem no qual euempreendedores como artistas e terapeutas são convidados a trazer para o mundo Startups inspiradoras.
Formado em Tradução pela Universidade Federal de Ouro Preto e Intercâmbio na Universidade do Porto em Portugal, atualmente dedica-se ao seu Mestrado em Pensamento Complexo pela Multiversidad Mundo Real Edgar Morin. É membro da delegação do Brasil no Programa Internacional para Formação de Líderes — The Ship for the World Youth (SWY20)— organizado pelo governo do Japão e apoiado pela ONU.
Possui formações em Biopsicologia, Fluxonomia 4D, Design Thinking, Gerenciamento de Processos e Projetos.
Pós-graduado em Psicologia Transpessoal pela Unipaz São Paulo, atua há 10 anos em multinacionais de tecnologia (IBM, HP, DXC), nas áreas de Gerenciamento de Projetos e em Consultoria de Recursos Humanos para novos negócios.