“…os homens não estão interessados em autoconhecimento, certo?
Errado!.”
Roniel Lopes
Qualquer pessoa que tenha o costume de participar de grupos de autoconhecimento, desenvolvimento pessoal e processos de mergulho em sua própria subjetividade já deve ter tido a experiência de adentrar uma sala repleta de mulheres e com pouquíssimos homens. O mesmo fenômeno acontece nas salas de aula dos cursos de Psicologia e também nos consultórios terapêuticos. Isso significa que os homens não estão interessados em autoconhecimento, certo? Errado!
Trabalhando com grupos de homens há cerca de dez anos o que tenho visto é uma profunda avidez por desenvolvimento. No entanto, é real a dificuldade em dar o primeiro passo. Talvez porque nos tenha faltado desenvolver essa capacidade da iniciativa, de nos movermos em direção ao desconhecido. Nossa mente racional extremamente valorizada nos fez reféns do entendimento, da explicação, das ‘caixinhas’ pré-determinadas. Acontece que para mergulhar na subjetividade é necessária uma boa dose de fé e isso nós aprendemos a direcionar para um agente externo e não para nosso próprio potencial. Os primeiros passos quase sempre são trôpegos e cheios de desconfiança e a decisão de ir adiante muitas vezes é motivada por rupturas e processos de despedida dos grandes apegos. Um empurrãozinho com as duas mãos costuma ajudar a alma a ‘pegar no tranco’.
Uma vez que o homem vence a inércia e consegue atravessar a fronteira do mistério, seu ser apresenta-se vulnerável e disposto a mergulhar em sua verdade real e atualizada. Tal qual um cavaleiro que se livra de sua armadura, nós homens temos sentido a maravilha de abrir mão do peso de uma vida guiada por um estereótipo de masculinidade que machuca tanto quem está dentro quanto quem está fora. Nossas histórias ficaram perdidas e, para sermos de verdade novamente, temos que reencontrar a trama, voltar a tecer de forma saudável desde onde paramos. No olhar de outros homens, encontro os espelhos que preciso para me ver por diversos ângulos. Na história de vida de outros homens, percebo que eu nunca estive sozinho e que em silêncio caminhamos lado a lado por estradas diversas e tão semelhantes.
A toxicidade vai diluindo com humanidade. Vai ficando claro que nossa agressividade não é elaborada, mas imatura. Aos poucos, vamos reaprendendo a utilizar nossa força para construir. Com paciência e disposição, o masculino e o feminino aprendem a dançar em harmonia. O encontro consigo mesmo passa a ter flores plantadas, regadas e colhidas de um profundo processo de mergulho, observação, desconstrução e reconexão com a essência. Homens de verdade, verdadeiros!
Roniel Lopes é facilitador de grupos de autoconhecimento, psicólogo e administrador de empresas. Trabalhando sempre na área social, fez de suas buscas pessoais um estímulo para atuar como um agente de transformação, criando e sustentando espaços de aprendizagem e desenvolvimento humano.