“O útero é o primeiro ambiente do bebê. A condição vital e energética desse habitat terá uma representação de aceitação ou rejeição já nos primeiros momentos de vida. O mais primitivo vínculo humano acontece dentro da barriga da mãe.” (Evânia Reichert)
Na literatura mundial, nos últimos 15 anos, vem aumentando o número de trabalhos científicos que mostram a relação entre “stress” materno e a morbidade e mortalidade materno fetal, com um olhar
crescente sobre a psique fetal. O que sente o feto? Como ele vivencia as perturbações fisiológicas no meio uterino desencadeadas pelos desequilíbrios psico-neuro-endócrinos vivenciados pela mãe durante a gestação?
Apesar de se saber que as emoções vivenciadas pela mãe, positivas e negativas, afetam o desenvolvimento da gravidez e a saúde do feto, ainda não se definiu quais emoções, ou qual contexto emocional, estariam diretamente envolvidas com complicações específicas como hipertensão,
diabetes, prematuridade etc.
Durante alguns anos, desenvolvemos um trabalho no Centro Viva Vida em São Lourenço/MG, com grupos de gestantes de risco social, econômico e emocional dos mais diversos, com o objetivo de individualizar estas emoções e ressignificá-las, promovendo um equilíbrio na relação mãe/bebê para que o tripé aceitação / conexão / vínculo se estruturasse da melhor maneira possível à realidade de cada uma, gerando assim proteção ao feto e melhora do quadro emocional da mãe, com suporte até o parto. Devido aos resultados positivos obtidos, defendemos a importância do olhar atento sobre as condições emocionais da mulher enquanto gestante,como parte da assistência Pré-Natal. Nosso trabalho consistia na ressignificação das emoções negativas relacionadas à gestação e ao feto através da formação de imagens, caminhando passo a passo dentro do contexto de cada mulher até o parto.
Cada gestação é única, e é fundamental que apesar das dificuldades que podem envolver esse período, a mulher seja amparada na busca de um novo equilíbrio, aproveitando cada momento vivenciado com o bebê ainda no ventre, para que ele (a) possa se desenvolver bem e se preparar junto com ela para o parto.
Na Medicina Chinesa, dizemos que a gestação transforma a mulher em um Ser pleno do Yin, a expressão máxima do feminino, e pede nesse período o recolhimento, o olhar para si mesma, a
percepção, a aceitação, a adaptação e a espera.
O período gestacional é um ritual de passagem, no qual a mulher deixa “morrer” a filha para que possa “nascer” a mãe. Existe um movimento de transformação que leva ao nascimento dessa “mãe” junto com o filho que vai nascer. A qualidade da energia materna tem um peso importantíssimo na
qualidade da energia do feto, e essa consciência da presença desse ser único sendo gerado é fundamental.
No entanto, na nossa realidade atual, a mulher, mesmo grávida, é solicitada a ser cada vez mais Yang, competindo, produzindo, sustentando a família e, muitas vezes, se sentindo culpada por não conseguir, nessa fase, atender como antes a essas demandas, por ter vontade e necessidade de parar, refletir, se perceber, descansar…
Já ouvimos com certeza alguma gestante afirmar: “Eu nem percebo que estou grávida”, “É como se eu não estivesse grávida.”
Estas afirmações refletem uma negação inconsciente do processo gestacional, uma desconexão consigo mesma, já que se auto perceber e ao feto diante de tantas demandas sociais, econômicas, familiares, levaria a um desconforto psíquico pelas “limitações possíveis” do período gestacional.
Na gestação, o Movimento presente é do elemento Água (o máximo do Yin), que simboliza nossa Energia Ancestral. A natureza da Água é maleável , mutável, se adapta, gera vida. Vivenciar a
gestação com Consciência, com Presença, é vivê-la como um acontecimento transformador das emoções, onde o resultado principal será passar ao bebê o sentimento de ser bem-vindo.
Acreditamos que uma boa assistência Pré-natal seja importante, mas sem um suporte igualmente
bom (ou mais) às necessidades emocionais da mãe, a valorização da sua história de vida, a atenção ao que significa naquele momento para aquela mulher estar grávida, a facilitação da
construção do tripé aceitação / conexão / vínculo, estaremos deixando de fazer algo importante para a prevenção das neuroses do Ser humano.
Tania T. Pereira é médica pediatra e neonatologista, homeopata e acupunturiatra (Medicina Tradicional Chinesa e Acupuntura Neuromodulatória), com especialização em Auriculoterapia Francesa e Mobilização da Energia do Subconsciente (Qi Mental).