Unipaz São Paulo

UNIPAZ SÃO PAULO

Qual é o papel das insti­tuições de ensino? A pergunta esconde uma questão primordial que permeia o conceito de educação hoje predomi­nante no país.

Roberto Crema

 Afinal, na escola o aluno adquire conhecimentos em variadas áreas que abrirão portas para que se torne um profissional mais qualificado e uma pessoa mais culta

Por outro lado, valores fundamentais para transformar mais justa, ética e igualitária a nossa sociedade são adquiridos ao longo da vida a partir da convivência com outras pessoas e de experiências diversas. E ser capaz de tirar lições dessas situações não é algo simples, mas, pode ser aprendido em sala de aula. “Precisamos desenvolver uma alfabetização integral em que se possa produzir um solo fértil no qual a pessoa aprenda a desenvolver a sua inteligência emocional, a colocar qualidades nesses mecanismos homeostáticos naturais, que são as emoções”, também a desenvolver inteligência relacional e onírica, já que os sonhos são fundamentais no desenvolvimento da consciência, diz Roberto Crema, reitor da Universidade Internacional da Paz – Unipaz.  

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A declaração de Crema se baseia em seus mais de 30 anos de atuação na área de educação. Antropólogo e psicólogo de formação, o reitor se aproximou, ainda nos anos 1980, do movimento transpessoal, considerado hoje a quarta força dentro da psicologia e marcada, entre outras coisas, por incluir a espiritualidade dentro do processo de desenvolvimento do indivíduo. Esse é um conceito fundamental na perspectiva transdisciplinar holística da Unipaz, a sede brasileira de uma instituição internacional cujo foco principal é formar pessoas no marco de uma educação integral, capazes de colaborar com um mundo melhor. “Na Unipaz, temos introduzido o processo de alfabetização psíquica em todos os nossos programas, ou seja, aprender a aprender sobre si mesmo”, explica. 

O foco integral no ser humano é uma tendência mundial há algum tempo. Em 1986, foi realizado em Veneza um colóquio cujo tema era “A Ciência diante das Fronteiras do Conhecimento”, em que os participantes apontaram para a necessidade de que o conhecimento científico inicie um diálogo da ciência com a filosofia, a arte e as tradições sapienciais. Essa é a proposta da Unipaz. “Tudo o que fazemos na universidade tem fundamento na proposta da UNESCO de aprender a conhecera fazera conviver e a ser. Não estamos falando de crenças ou de meras ideias abstratas, mas de conhecimento integrado e integrador”, afirma Crema.  

O conceito de educação defendido por Crema está intimamente ligado à Declaração de Veneza, documento divulgado no fim do colóquio da Unesco. No texto, os participantes conclamam para um novo aprender pautado em quatro pilares: educar para conhecer, fazer, conviver e para ser. “Nós temos, ao longo dos últimos séculos, apenas desenvolvido o cérebro, que nos dá o suporte para aprender a conhecer e a fazer, o que é necessário mas não suficiente, naturalmente. O desenvolvimento integral do ser é um ponto capital no processo educacional ”, diz.
Destaca, entretanto, que o grande obstáculo é a normose, patologia da normalidade, traduzido pela adaptação a um contexto dominantemente desequilibrado, desumanizado e corrompido, e por uma estagnação evolutiva, caracterizada pelo investimento exclusivo na esfera intelectual, desvinculada do afetivo psíquico e dos aspectos éticos que emanam de uma consciência integral.

Crema reforça que cada dia mais é importante que os indivíduos sejam preparados para a consciência que inclui a dinâmica do todo e da parte, no contexto de uma ecologia individual, social e ambiental. Para que possamos transcender a crise de fragmentação e de desvinculação provocada por saberes dissociados da dimensão do ser, do conhecimento desconectado da ética e do amor. “As mudanças do futuro dependem fundamentalmente da real construção de um olhar aberto e inclusivo, rumo à evolução consciente do ser humano integrado à coletividade e à sustentabilidade do planeta, no sentido de um novo modelo civilizatório que implica em um novo paradigma educacional. Queremos ser a semente de uma renovação na área da educação, em que o aprendiz venha em primeiro lugar, com a tarefa do autoconhecimento caminhando lado a lado com o domínio dos assuntos estudados em sala de aula para, assim, garantir uma formação que privilegie uma visão holística do mundo”, afirma o reitor.



Roberto Crema formou-se em Ciências Sociais – Antropologia e em Psicologia. Realizou diversas formações humanísticas: Análise Transacional, Gestalterapia, Terapia Familiar, Bioenergética, Abordagem Centrada na Pessoa, Biodança. Em 1981 encontrou-se com Pierre Weil e, através do Cosmodrama mergulhou no movimento Transpessoal. Após a passagem de Pierre Weil, em 2008, assumiu a reitoria da UNIPAZ. É membro honorário da Associação Luso Brasileira de Transpessoal – ALUBRAT, Fellowship da Findhorn Foundation, autor e coautor de mais de trinta livros. Atualmente, com a Lydia Rebouças, orienta uma formação em Terapia da Inteireza na UNIPAZ de Brasília, e exerce atividades didáticas focadas na abordagem transdisciplinar holística no Brasil e no exterior.

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