A experiência humana tem provado que não. Mesmo assim, costumamos ser pouco receptivos aos erros, especialmente às nossas próprias falhas e limitações. Costumamos ter uma imagem idealizada de nós mesmos, muitas vezes baseada no que acreditamos ser aceitável no meio em que vivemos. Quando erramos ou fracassamos, esta imagem idealizada é colocada em xeque. Ativamos nosso autojulgamento e tendemos a ser severos ou mesmo cruéis conosco, questionando o nosso valor. O autojulgamento persistente pode gerar reações de estresse físico e emocional, desconexão e dificuldade para realizarmos o autocuidado.
A autoidealização e a autocrítica são inerentes à condição humana, mas quando investimos em autoconhecimento e desenvolvimento pessoal podemos nos aproximar de quem somos de verdade, aprender a nos aceitar e desenvolver autocompaixão.
A ciência tem estudado o poder da compaixão e da autocompaixão na vida humana. Estudos têm apontado que a autocompaixão é o antídoto para a os danos gerados pelo autojulgamento. A autocompaixão é a capacidade de uma pessoa se acolher e ser receptiva e amorosa consigo própria mesmo diante de decepções, erros, fracassos ou quaisquer sofrimentos. Em suma, a autocompaixão permite que o indivíduo seja o seu melhor amigo, mesmo diante de grandes adversidades.
A autocompaixão também é inata, natural aos seres humanos, mas precisa ser desenvolvida. Infelizmente, no mundo em que vivemos, esta habilidade não é muito estimulada. Fala-se muito sobre compaixão como sendo o acolhimento e o auxílio a alguém que sofre, ao próximo. Várias religiões, por exemplo, pregam esta premissa. Se podemos ter compaixão pelo outro e mobilizar recursos para ajudá-lo, podemos, em essência, fazer o mesmo por nós. A compaixão deve começar dentro de nós, como expressão de amor, para que vivamos uma vida mais plena.
A ciência revela um caminho para o desenvolvimento da autocompaixão, pautado em três princípios básicos: atenção plena (Mindfulness); senso de humanidade partilhada; autobondade ou autogentileza.
A atenção plena ou Mindfulness é a capacidade de estarmos presentes no presente, conectados ao que está acontecendo conosco no nível físico, psíquico e espiritual. É necessário aprendermos a nos observar sem tecer julgamentos e a acolher o que percebemos. Podemos desenvolver esta habilidade praticando meditação, por exemplo, mas a atenção plena é, na verdade, uma mudança de postura diante da vida e diante de nós mesmos. A auto-observação amorosa é o primeiro passo para o desenvolvimento da autocompaixão.
O senso de humanidade partilhada nos conduz a perceber que o erro e o sofrimento são naturais na vida de todo ser humano. É muito importante aceitarmos a nossa condição humana. Uma pessoa erra e sofre porque é humana e vulnerável. Estamos todos juntos nesta jornada. Da mesma forma, o amor, o acolhimento e o cuidado fazem parte da natureza humana. Formamos uma unidade, não estamos isolados. É fundamental despertarmos para esta verdade.
A autogentileza ou autobondade se refere à capacidade de sermos gentis conosco, como seríamos com um amigo que sofre. Precisamos desenvolver a capacidade de nos abraçarmos mesmo diante do pior, de oferecermos nosso coração para nós mesmos.
Reconheço que a autocrueldade sempre foi presente em minha vida, bem como todos os danos gerados por ela. Estudar e praticar a autocompaixão tem transformado a minha relação comigo mesma e com as outras pessoas. A autocompaixão tem curado a minha alma, gerando cada vez mais alegria, liberdade e criatividade.
Compartilho aqui a letra de uma canção terapêutica sobre autocompaixão que compus nesta jornada:
“Eu sinto, eu penso, eu erro, eu sofro.
Eu sou humana.
Eu me aceito.
Sou gentil e amorosa, comigo sou.
A autocompaixão me acalma.
A autocompaixão me cura”.
É real. É possível. O desenvolvimento da autocompaixão é um caminho amoroso, que vale a pena trilhar. Estamos juntos nesta jornada.
Ozana Clara de Medeiros é Terapeuta Transpessoal. Facilitadora de processos de cura a partir da energia Reiki, canto e diálogo terapêutico. Mestre em Reiki.
Formação UNIPAZ-SP: Especialização em Psicologia Transpessoal (2018); Formação Holística de Base (2019); Laboratório de Práticas Terapêuticas (2021).
Graduação em Fonoaudiologia – USP (1996). Atuação em Fonoaudiologia Clínica e Saúde Pública. Especialização em Voz – CEFAC-SP (2004).
Cantora e compositora.