Esta mensagem traz um desafio. Ela lembra que a humanidade, no século XX, foi capaz de iniciar, mas não de resolver, a solução de três grandes desafios por ela já enfrentados: a desigualdade de gênero, a desigualdade racial e a desigualdade nacional.
Um quarto desafio, no entanto, continua em aberto. Compete somente aos seguidores e às lideranças das religiões buscar resolvê-lo: a diferença entre as religiões.
Não serão as Nações Unidas que reunirão os países para decidir como resolver o problema do difícil entendimento entre as religiões. Serão os próprios religiosos, os próprios seguidores, os próprios adeptos. São os que se colocam no caminho da religião que precisam fazer frente a esse grande desafio ainda em aberto. Enquanto ele não for solucionado, a paz mundial será impossível.
Esta mensagem chegou na Unipaz, às mãos do professor Pierre Weil, em 2001, que, num rompante de energia, convidou as religiões de todo o Brasil, através de seus representantes, a refletir sobre ela, na sede da Unipaz, em Brasília. Do processo reflexivo, nasce a Declaração do Compromisso Transreligioso.
Declaração do Compromisso Transreligioso
Devemos estar em paz conosco mesmos. Devemos nos esforçar para alcançar a paz interior através da reflexão pessoal e do crescimento espiritual e cultivar uma espiritualidade que se manifesta na ação.
Nossas comunidades de fé têm a responsabilidade de encorajar uma conduta adotada de sabedoria e compaixão, do ato de compartilhar e da caridade, solidariedade e amor, inspirando cada um, sem distinção, a escolher o caminho da liberdade e da responsabilidade. As religiões devem ser uma fonte de energia que seja de auxílio.
Promoveremos o diálogo e a harmonia entre as religiões, reconhecendo e respeitando a busca da verdade, da sabedoria, que se encontram fora da nossa religião.
Estabeleceremos um diálogo com todos, esforçando-nos por uma camaradagem sincera nesta nossa peregrinação terrena.
Assumimos a tarefa de dialogar com sinceridade e paciência, sem considerar o que nos diferencia como um muro intransponível, mas, ao contrário, reconhecendo que o confronto com a diversidade do outro pode se tornar ocasião para uma compreensão melhor e recíproca.
Nós nos comprometemos a proclamar nossa firme convicção de que a violência e o terrorismo contrastam com o autêntico espírito religioso e, condenando todo recurso à violência e à guerra em nome de Deus e da religião, nos comprometemos a fazer o que for possível para erradicar as causas do terrorismo.
Todos os presentes assumem a tarefa de educar as pessoas no respeito e estima mútuos, a fim de que se possa realizar uma convivência pacífica e solidária entre os membros de etnias, culturas e religiões diferentes.
Nós nos comprometemos a nos perdoarmos uns aos outros dos erros e preconceitos do passado e do presente e a nos apoiarmos no esforço comum para derrotar o egoísmo, a violência, o ódio e a vingança e a aprender, com o passado, que paz sem justiça não é a verdadeira paz.
Apelamos aos seguidores de todas as tradições religiosas e à comunidade humana como um todo a cooperarem na condução de sociedades pacíficas e a buscarem a compreensão mútua através do diálogo onde houver diferenças, a evitarem a violência, a praticarem a compaixão e a defenderem a dignidade de toda vida.
Já assinaram esta declaração representantes do budismo, confucionismo, cristianismo, bahaísmo, hinduísmo, unicismo, islamismo, judaísmo, siquismo, taoísmo e xintoísmo.
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Fonte: EGHARI, Iradj Roberto. Um compromisso transreligioso. In: WEIL, Pierre; LELOUP, J-Y; CREMA, Roberto. Normose: a patologia da normalidade. Campinas: Verus, 2003.
Iradj Roberto Eghari é um pensador e comunicador contemporâneo, tendo contribuído notavelmente para áreas como direitos humanos, educação, cultura, entre outras. Além do trabalho de coaching e de sua experiência profissional, Iradj participa ativamente de palestras que nos levam a relevantes questionamentos a respeito de nossas próprias vidas. Além de sua bagagem, sua abordagem humana transmuta o processo de coaching em uma experiência única e transformadora.